A mulher adúltera

Este é um texto bastante discutido e controverso. Vou discorre-lo da forma como creio ser mais coerente, de acordo à concordância bíblica.

Comparando os textos de João 8; João 12 e Lucas 7 e Lucas 10, podemos inferir tratar-se da mesma pessoa.

Conforme a tradição, esta Maria é a irmã da Marta, que por sua vez é esposa de Simão, o leproso do texto de Lucas. Este detalhe é importante porque explica o motivo de Marta estar preocupada com os afazeres domésticos enquanto a Maria estava aos pés de Jesus (Lucas 10:38-42), bem como no relato de João 12. Também explica o motivo do desprezo que é dispensado a Maria nesse mesmo capítulo. Logo, supõe-se que:

1. Maria teve um caso extraconjugal com alguém, possivelmente importante naquela região, sendo ele casado, e por isso ela foi acusada de adultério mesmo não sendo casada;

2. Sob risco de ser morta por apedrejamento, e não o sendo devido uma palavra de Jesus, ela se tornou eternamente grata, o que explica o seu grande apego ao Mestre (Lucas 7:41-43);

3. O sofrimento da Maria parecia ser muito maior do que o de Marta com a morte do irmão, pois sua irmã era casada e ela mal vista na cidade, possivelmente, sem pretendentes a casamento. Seu destino era incerto e fadado à solidão e desprezo;

4. Existe muita similaridade entre os fatos para ser apenas uma simples coincidência...

Se você concorda comigo até aqui, creio que irá ter a mesma visão daqui por diante...

Vamos seguir analisando os textos.

Quando levam a mulher até Jesus, ela possivelmente estaria nua ou com pouca roupa. Enquanto as pessoas olhavam a nudez dela, o Senhor olhava o interior da humanidade, desnudava a sua alma. Jesus não deu razão àquela mulher, nem tampouco disse que ela não deveria ser apedrejada. Apenas sugeriu que o apedrejamento começasse por quem não tivesse pecado.

Ao escapar da morte, aquela mulher pode ter pensado que estaria livre de qualquer condenação, mas o sentimento de culpa ainda persistia nela, haja vista que foi necessário Jesus confirmar que ela tivera sido perdoada, conforme consta em Lucas 7. Não obstante, se aqueles homens não conseguiram matá-la por apedrejamento, continuaram tentando fazê-lo, só que agora através de suas palavras, conforme relato nesse mesmo texto e em João 12. Não existe apenas um meio de se matar alguém: quando não se mata o corpo, pode-se matar a alma da pessoa...

Em João 8, importante frisar que nem Jesus sendo Deus não deixava de ir à igreja. O ocorrido foi em frente ao templo, e o local onde deveria gerar vida agora estava sendo utilizado como palco para a morte. O papel da igreja estava sendo distorcido. E hoje, a nossa igreja local, tem gerado vida ou morte nas pessoas?

O ser humano habituou-se a viver num sistema de troca. Só dou aquilo que recebo, e como um fica esperando isso no outro, a dificuldade em superar essa fase fica cada dia mais distante.

Sem entrar no mérito do pecado, vivemos o paradoxo do que deveríamos ser e o que realmente somos. No caso em questão, os acusadores são pessoas religiosas, na linguagem contemporânea, eram crentes, evangélicos. Eles compunham o grupo dos inimigos e perseguidores, enquanto Jesus, a personificação do amor. No meio de tudo isso, uma pecadora necessitada de perdão... Alguma similaridade com o contexto no qual vivemos?

O Cristianismo que vivemos está adequado à ordem de Jesus expressa em Mateus 5: 43-48? Como tratamos nossos inimigos e aqueles que nos perseguem? Quantas orações eu já fiz por esse tipo de pessoa? E aqueles que não tem nada para me oferecer, como os tenho tratado?

O nosso nível de intimidade com Cristo irá refletir na forma como lidamos com as demais pessoas. Se não somos e não fazemos a diferença, existe algo de errado nesse relacionamento. Não somos cristãos por causa de uma religião, mas porque somos discípulos de Jesus. Sem Ele, nada podemos fazer...

Nas nossas orações, vamos incluir os nossos inimigos, não para Deus exterminá-los (Lucas 9: 54-56), mas que que o Senhor possa abençoá-los.